Brincar é necessário? – Silvia Eugenia Molina

Este pequeno texto surgiu para responder a uma das questões que chegaram, antes deste nosso encontro, evento virtual que foi idealizado a partir da publicação, da minha autoria, neste Site, e cujo tema é: “De que maneira os pais e outros cuidadores, podem apresentar a pandemia às crianças? ” Então pensei que teria que fazer um resumo de questões que, na minha experiência clínica, são importantes quando nos referimos ao brincar dos bebês e das pequenas crianças. E iniciarei respondendo a seguinte questão:
Porque o brincar é fundamental na vida das crianças?
Porque ele se constitui como uma necessidade surgida a partir do projeto de inclusão comunitária ao qual a criança terá de ir respondendo.
Demanda esta que suscita, nos bebês e nas crianças, interrogantes em relação às razões de tudo quanto lhe é apresentado face a àquela finalidade, assim como àqueles interrogantes que as vivências familiares e sociais lhes provocam.
E de que maneira eles se interrogam e buscam respostas?
Através de manifestação, que serão respostas de comunicação aos seus adultos tutelares, feitas através de gestos, de ações, de imaginações, de dramatizações e de palavras, expressões que, por se tratar de respostas de comunicação, são significantes.
E porque as denominamos de significantes?
Estes recursos subjetivos foram tomando forma a partir de saberes (inconscientes-pré-conscientes) que dizem do passado, do presente familiar e social e de suas projeções de futuro.
Recursos psíquicos através dos quais é possível se exprimir através das brincadeiras de “fazer de conta”, metáforas (maneiras de dizer, levando em conta os interditos culturais). Símbolos expressados através de gestos, ações e de palavras que visam apreender, metabolizando, as transmissões recebidas pela família e seus cuidadores, transmissões estas que funcionam como matéria dessas indagações quanto dessas respostas.
E o que faz que estas transmissões tenham eficácia?
Elas são recebidas pela via da identificação com os familiares e outros cuidadores, a fim de ir participando na construção da sua pessoa nesse laço social. Construção gradativamente desenvolvida a partir de um projeto simbólico.
A que nos referimos quando falamos de projeto simbólico?
Trata-se do plano, elaborado antecipadamente pelos pais e familiares, ponto de inspiração, a partir do qual o bebê e a criança possam ir entendendo as razões pessoais, familiares e sociais de sua existência, operação de apropriação daquele projeto simbólico que irá constituindo as narrativas das Teorias Sexuais Infantis.
Portanto, será através destas formulações que ele conseguirá ir sabendo de que se trata ser filho, mãe, pai, marido, mulher, irmão, assim como os outros papéis sociais nos quais, aos poucos, terá de ir participando. E brinca para apreender, de maneira antecipada, a primeira versão destes papéis sociais, versão inaugural que funcionará de bússola e parâmetro para participar da gradativa inclusão social.
Silvia Eugenia Molina
Psicóloga-Psicanalista. Especialista em Psicologia Clínica UFRGS; Fundador e membro da equipe clínica do Centro Lydia Coriat de PoA; Docente do Centro de Estudos Paulo Cesar D’Avila Brandão do Centro Lydia Coriat de PoA. Coordenador do Grupo de Estudos O Infantil e o Desenho, no seu XXIII ano de existência.