As crianças e seus territórios de existência: os desafios de seguir o “cuidar e educar” da escola, na pandemia. – Rosane Romanini

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O texto que publicamos hoje foi escrito por Rosane Romanini e é fruto da conversa entre Silvia Eugenia Molina, Rosane Romanini e Verônica Ezequiel, na live intitulada: Como os pais, professores e cuidadores podem apresentar a pandemia às crianças?
As crianças e seus territórios de existência: os desafios de seguir o “cuidar e educar” da escola, na pandemia.
Cada um de sua casa, auxiliados por uma tela virtual, a partir do que lançaram como questão os profissionais do Centro Lydia Coriat, em especial Silvia Eugenia Molina a quem temos em comum o compartilhamento do grupo Redescobrindo o Brincar para além do Tablet e Celular, foi possível através de uma roda de conversa entre professores, psicólogos e psicanalistas, colocar em discussão o que se propõe o texto a partir da pergunta: “de que maneira os pais, as mães e professores, podem apresentar a pandemia às crianças?”. Conversar sobre aquilo que está possível fazer-se movimento na vida das crianças no que diz respeito ao seu desenvolvimento integral, durante a pandemia e, aquilo que pode ter ficado num espaço “sem alguém” e, o que disso resulta efeitos negativos aos pequenos, foi o que nos propusemos a fazer, diante do lugar que a escola ocupa na vida das crianças.
Suspender territórios compreendidos pela dupla: casa-escola, criança-professora, assim como os trajetos pela cidade que possibilitam às crianças serem ativas e protagonistas, nos pareceu algo jamais pensado. A entrada das crianças na escola de educação infantil desde a creche, é um dos primeiros acessos aos seus direitos. É pela sua universalização que os fóruns de educação infantil, no qual a OMEP faz parte, move esforços, promove debates e lutas.
Como sustentar o “cuidar e educar”, das crianças pequenas, a distância? Como ajudar os familiares a compreender a potência do cotidiano infantil, que até então se dava numa parte significativa, no espaço escolar, coletivo e partilhado entre crianças e professores? O que dizer às crianças, revelar ou omitir, quando se está frente do perigo da contaminação e até da morte? O que fazer quando vemos intensificar as desigualdades sociais e a violação dos direitos das crianças? Onde estão as crianças da escola? Como estão?
Professores aceitaram o convite e trouxeram relatos de suas tentativas de manter vínculos com as crianças e seus familiares e, na sequência pensar nas aprendizagens possíveis. Colocaram-se preocupados com as fragilidades de algumas crianças, seja pela alimentação precária, pelo excesso das telas, pelo pouco espaço para brincar, pela falta de diálogo com os familiares, de como lidar com as questões da morte no qual algumas crianças vivenciaram na pandemia, entre outras dificuldades que se colocam no seu fazer pedagógico.
Considerei de extrema importância estarmos entre coletivos de professores e profissionais de diferentes campos do saber, cientes da complexidade do desenvolvimento infantil e, dos impactos que uma pandemia pode causar na construção das suas subjetividades.
Silvia traz o quanto é estruturante para as crianças que os professores e a escola sigam comemorando datas festivas, assim como, apostem nas contações de histórias, nas brincadeiras propostas, nos desenhos solicitados e nas conversas que realizam através dos grupos de whatsaap, como relataram com entusiasmo. Como disse só o amor dos pais não salva uma criança, no sentido de uma estruturação necessária para constituir-se como um sujeito que se reconhece e é reconhecido pelo outro.
A escuta dos pais foi relatada por alguns professores como uma necessidade, pois perceberam que as trocas os deixavam menos ansiosos, aguardando o encontro da semana com alegria. Foi pontuado que os professores devem escutar os familiares, não significando que eles têm que dar conta dos apelos e demandas dos pais. É preciso que os professores tenham ou busquem apoio de profissionais da saúde que trabalham com a escuta e seus desdobramentos.
A OMEP-NH, como uma organização da sociedade civil, apoiadora da roda de conversa, vem se articulando através dos fóruns de educação infantil a ajudar professores a encontrar direções de trabalho que não diminuam a força da história de lutas da educação infantil. Escolas fechadas não significam que o trabalho dos professores não deva acontecer. Nesta perspectiva de aproximação, a OMEP tem realizado uma escuta de 46 crianças através de um projeto piloto, na efetivação do direito a participação infantil. Construímos um laço com as crianças para uma partilha de ideias na construção do planejamento da semana municipal do brincar da cidade de Novo Hamburgo, que em 2016 conquistou a lei que instituiu uma semana para debates e ações de valorização do brincar. As crianças nos contam como estão se sentindo, do que tem saudades, o que estão fazendo em casa e como gostariam de festejar a volta do brincar nos espaços coletivos. Esse brincar potente que se dá nos espaços da cidade pretende ser uma referência comunitária importante para as crianças.
Praças, parques, ruas e adultos disponíveis para garantir o brincar, talvez seja uma direção fundamental para restaurar a infância das crianças no pós-pandemia.
Rosane Romanini
Professora de Educação Física, psicomotricista e brinquedista. Professora do Pós-graduação em Educação Infantil da Unisinos e do ISEI/Ivoti. Professora aposentada da Municipal de Ensino de Novo Hamburgo/RS. Membro da OMEP/BR/RS/NH.